Urânio: O nome do
interesse da França na África
Há um mês, o presidente
socialista repete que a França não tem interesses no Mali. A principal riqueza
deste país da África é o ouro, que representa mais de 70% de suas exportações.
No entanto, a França tem sim interesses muito perto do Mali, a saber, em Níger,
quarto produtor mundial de urânio. Cerca de 75% da energia que se consome na
França é de origem nuclear. E 30% do urânio que o país consome vêm do Níger.
Em uma entrevista
publicada pelo diário gratuito Metro, o chefe da diplomacia francesa declarou
que “a França não tem por vocação ficar
permanentemente no Mali. (...) São os africanos e a população do Mali que devem
ser os garantidores da segurança, da integridade territorial e da soberania do
país”.
O cenário mais plausível indica que a França conserve forças no Mali, enquanto se completa o deslocamento da Misma, a missão militar africana composta por 6 mil soldados, 2 mil dos quais já estão operando no terreno. No entanto, mesmo assim a aposta de “garantir a segurança e a integridade territorial” parece inalcançável. Em primeiro lugar, o exército do Mali encontra-se em um estado de ruína absoluta. Sua força aérea conta com apenas três helicópteros fabricados na Ucrânia em condições de voar.
O cenário mais plausível indica que a França conserve forças no Mali, enquanto se completa o deslocamento da Misma, a missão militar africana composta por 6 mil soldados, 2 mil dos quais já estão operando no terreno. No entanto, mesmo assim a aposta de “garantir a segurança e a integridade territorial” parece inalcançável. Em primeiro lugar, o exército do Mali encontra-se em um estado de ruína absoluta. Sua força aérea conta com apenas três helicópteros fabricados na Ucrânia em condições de voar.
Fontes militares
francesas citadas pelo Le Monde asseguram que menos de 1.500 homens participam
na reconquista do território. Um testemunho de um militar do Mali citado pelo
mesmo diário reflete o abismo da situação: “há meses”, graças a fotos de
satélites, sabíamos que a menos de 15 quilômetros de nossas posições havia uma
base da Al Qaeda no Magreb islâmico, mas o poder político não fez nada:
preferiu discutir com eles a liberação dos reféns ocidentais e cobrar uma
porcentagem dos resgates. Logo depois do golpe de estado de março de 2012, Mali
ficou sem presidente e com um sistema político à deriva.
No entanto, a França tem sim interesses muito perto
do Mali, a saber, em Níger. Este país, que é o quarto produtor mundial de
urânio, já sofreu os ataques dos militantes islâmicos. No final de janeiro,
Paris enviou tropas especiais ao Níger para proteger as mias de urânio de
Arlit, exploradas pela multinacional nuclear francesa Areva. Há mais de dois
anos cinco técnicos franceses foram sequestrados nessa planta por um comando da
Al Qaeda. A instabilidade no Mali, com quem Níger compartilha mais de 800
quilômetros de fronteira, é uma ameaça para o fornecimento de urânio que a
França precisa para o funcionamento de suas 58 centrais nucleares. Cerca de 75%
da energia que se consome na França é de origem nuclear. E 30% do urânio que o
país consome vem do Níger, onde, através de Areva, a França explora as duas
principais minas: a de Arlit e a de Akokan.
Níger é o quarto produtor mundial de urânio e um dos países mais pobres do
mundo: figura no 170º lugar na lista de 192 países elaborada pelas Nações
Unidas. Limpando o norte do Mali da presença dos grupos armados islâmicos,
Paris põe um cadeado em Níger e protege a exploração de urânio.
A análise é de Eduardo Febbro, em Paris, para a Carta
Maior
Tradução: Katarina Peixoto
Tradução: Katarina Peixoto
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